Iniciativa pioneira do Dj e produtor Rafael de Lucena (a.k.a Babuê de Sade) a “Dança das Sombras” nome dado a festa que esta na 18ª edição, e desde sua estréia em 2005, no extinto Noise3d Club, explora a temática dark/gótica não só na musica mas na estética geral da festa.
A festa acontece no dia 03 de Dezembro no The Pub, em Fortaleza, e conta com a presença de HansenHarryEbm (SP), Aire 'n Terre (RS) e Plastique Noir (CE) como atrações principais e Djs discotecando a noite toda.
Conversei com Hansen Harry (Uma das atrações da Dança das Sombras e um dos Pioneiros na junção do rock com o eletrônico no Brasil) que até hoje dá continuidade a um trabalho bastante importante que teve inicio na década de 80.
Hansen já morou em Fortaleza, foi um dos proprietários da loja Invasor e segue com o “Harry and The Addict” (agora no singular) Ele traz a Fortaleza um show solo com varias fases de sua carreira e promete uma apresentação imperdível.
Rádio77 - Na época que surgiu o Harry, 1985, o que vocês estavam ouvindo e quais bandas foram influencia para o seu som?
Hansen - ah, no começo o Harry and The Addicts era diferente pq não tínhamos teclados, eu já estava interessado em eletrônicos, mas não havia equipamento, então comecei a encher minha guitarra e minha voz de efeitos e soava eletrônico. Nessa época as maiores influencias eram o Chrome e o Joy Division.
Rádio77 - Como vocês eram tratados em relação ao cenário musical da época? Explosão do rock nacional e vocês fazendo um som diferente e em inglês?
Hansen - Pela mídia no começo a gente chamou a atenção pelo padrão de qualidade até pq o EP tinha duas faixas em português, cantadas pela Denise, pq eu não consigo cantar nessa língua nojenta, (Risos) mas logo passamos a ser ignorados totalmente, pq a maioria dos críticos da época tinham suas bandecas, então tinham que puxar o tapete.
Harry and The Addicts
Rádio77 - Alguma banda nacional da época do surgimento do Harry chamava sua atenção pela sonoridade ou qualidade? Qual?
Hansen - Que eu me lembre, o Karisma, pq soava como banda gringa. O Patrulha do Espaço, confesso que nunca comprei discos deles, mas vi uns 10 shows, eram fantásticos ao vivo. E claro, Agentss e principalmente Azul 29. Mas no geral os 80s para o Brasil foi igual aos 50s para os americanos: o rock penetrando as massas, aumento massivo do consumo de drogas, a heroína chegando, apesar que só milionários como os Titãs tinham acesso, (Risos). Porra, tinha um monte de semelhança, mas não vou lembrar agora.
Banda Brasileira Azul 29
Rádio77 - Atualmente, o que você está ouvindo?
Hansen - Eu ouço muito synthpop alemão e sueco. Mas no ultimo ano entrei nessa piração de tocar guitarra direito, então tenho voltado as origens, muito hard dos 70s, e muito Malmsteen, (Risos)
Rádio77 - O que você acha do rock nacional nos dias de hoje?
Hansen - Já tem? Não sabia (Risos) No mainstream só tem merda, filhos e sobrinhos da republiqueta das bananas. Por fora tá cheio de coisa boa: o próprio Plastique, Serious Voices, Dawnfine, Projeto Renfield, Mobius Project, Super OverDrive, Oficina G3, In Auroran, Downward Path, Scarlet Leaves e mais um monte que eu não vou lembrar agora. Mas mainstream é só lixo para universotários.
Rádio77 - Você tem novos ídolos ou eles continuam os mesmos? Quais são eles?
Hansen - Beatles, Ultravox, Kraftwerk, Apoptygma Berzerk, Malmsteen e Jason Becker
Rádio77 - Faz quanto tempo que você não vem à Fortaleza?
Hansen - Desde 2005.
Rádio77 - Tem Boas lembranças da cidade? Quais?
Hansen - A vida é mais barata, mas também é mais difícil ganhar grana. Eu comi mulher por 3 reais aí (Risos) Porra, se comesse todo dia, daria 90 mangos, muito mais barato que casar (Risos)
Rádio77 - Qual sua visão do cenário musical de Fortaleza na época da Invasor?
Hansen - Me surpreendeu, tinha grandes bandas aí que eu nem fazia idéia ao chegar. Velouria, Insanity (inclusive gravei um vocal no 2o disco deles), Dago Red, Dead Poets, Kamerata, eram bandas excelentes.
Rádio77 - Você acredita ser, através da Invasor, um dos responsáveis pela introdução de uma nova cultura musical na cidade de Fortaleza? Afinal, muita coisa só se encontrava na sua loja.
Hansen - Espero que sim, pq não adiantava ter loja em shopping com mais estrutura e você pedir um CD do Trace e os caras não tinham a menor idéia do que fosse. Curioso que, a maneira da minha loja Blood, em SP, tentei implantar a cultura goth e a eletrônica, mas só a goth rendeu um pouco, pq eletrônico aí, só pegou aquelas coisas dos viados de Detroit (Risos)
Rádio77 - Pq a loja fechou?
Hansen - Eu tive que segurar uma bronca grande, pq eu tinha uma sociedade meio na base do know how (meu) + capital (ele). Só que ele foi assassinado num assalto e eu tive que me virar sem capital de giro. Deu bem por 4 anos, mas tomei duas bombas de uma vez: a alta repentina e galopante do dólar e a internet. Antes de quebrar de vez, resolvi vender meu estoque (para a finada Empire). O problema é que não arrumei outro trampo, então tive que voltar.
Rádio77 – O que você faz hoje em dia?
Hansen - Toco guitarra.
Rádio77 - Dá pra viver de musica no Brasil?
Hansen - Se você não for filho de alguém ou amigo do neto do Boni, não dá, não. Ainda bem que a entrevista não é ao vivo, senão vc perguntaria "Mas se vc só toca guitarra e não dá pra viver, como é que vc faz?", eu não saberia responder (Risos)
HansenHarryEbm
Rádio77 - Fale um pouco sobre suas expectativas para o show em Fortaleza.
Hansen - Eu espero que tenha um ampli decente pra minha guitarra. Vou tocar, voltar para onde estiver hospedado, bater uma punheta e dormir. Eu devia ter sido pagodeiro se quisesse, catar todas depois de show. Porra, nem sei se vc vai poder publicar essas merdas que eu falo, (Risos)
Conversei também com o produtor Rafael de Lucena que destaca as conquistas de uma “cena” com potencial e qualidade, a distorção que ocorre em relação ao termo “Gótico” e o lado profissional desta empreitada.
Rádio77 - Como surgiu seu interesse pelo gótico?
Rafael de Lucena - Surgiu quando eu era mais novo, ouvindo bandas como The Cure, Joy Division, Bauhaus, mas só se concretizou quando em 2005 eu notei que havia uma lacuna na cidade pra eventos do tipo e resolvi fazer a Dança das Sombras, era tudo muito complicado, o povo era disperso demais, só através do orkut foi possível reunir uns gatos pingados e dar o start na "cena"
Rafael de Lucena (a.k.a Babuê de Sade)
Rádio77 - Fale um pouco da atual cena dark/gótica em Fortaleza.
Rafael de Lucena - cara, falar em cena mesmo é complicado, apesar de termos a melhor banda gótica do Brasil aqui, o Plastique Noir (a única banda gótica a tocar na VIRADA CULTURAL DE SP, o maior evento de cultura do país) a Plastique lançou o primeiro CD-Demo gravado em estúdio caseiro no primeiro show, mas que rendeu convite pro maior festival gótico do mundo na Alemanha, a "cena" se resume a banda e a festa Dança das Sombras, que teve 17 edições em 5 anos. Muito mais por teimosia minha e dos amigos. Não existe uma cena propriamente dita, existem pessoas com gosto em comum, não temos mais bandas, nem selos, nem casas especializadas.....é complicado. Acaba que a DdS fica sendo mais uma festa entre amigos.. tem muita gente nova ouvindo metal sinfônico achando que é gótico, tipo Nightwish, Evanescence e afins, mas não sabem nem de onde o termo gótico surgiu ou seja, muitos wannabes e posers metaleiros, a midia vende o gótico como metal pq tem mais apelo comercial, cunharam o termo "gothic metal" pra vender CD aqui no Brasil e muita gente ainda está presa nesse falso conceito. É questão de afinidade e estética mesmo, o gótico tem por totem a arte e é hedonista por natureza, adora apreciar tudo de bom que a vida tem, diferente do que pregam por aí de emuxos e chororó (Risos). Se expressa em todas as vertentes da arte: música, literatura, pintura, cinema e etc; é um gosto considerado por muitos como obscuro mas o gótico usa isso como ferramenta de inspiração artística.
Banda Cearense Plastique Noir
Rádio77 - Você Tem conhecimento de outras iniciativas semelhantes em outras capitais do Brasil?
Rafael de Lucena - Hoje temos dois grandes festivais góticos no Brasil: O DARKTRONIC em Salvador e o WOODGOTHIC em Minas Gerais, que congregam bandas e DJs de todos os cantos. A cena nacional tem crescido bastante regionalmente e localmente falando, é o que disse no começo, ainda falta muito pra termos uma cena como em SP, que tem até briga entre "panelas" góticas (Risos) no nordeste existem iniciativas em Campina Grande, Recife, Salvador, aqui em Fortaleza, e por incrível que pareça, no NE tem mais bandas ativas e com trabalho do que no eixo RJ/SP.
Rádio77 - Qual a recepção e a primeira reação dos empresários donos de casas de show / boates e patrocinadores que abrem o espaço e dão apoio a iniciativas como o Dança das Sombras?
Rafael de Lucena - É de boa, até pq o povo ainda não entende direito o que é (Risos) na comunidade da casa (orkut) tá como FESTA DAS SOMBRAS (Risos) agora foi a abertura que tenho , por conta de ter sido gerente da casa do rock de Fortaleza nos últimos anos e sempre ter feito produção. Mas tratamos a coisa como trampo sério, saca? damos o sangue e suor e nunca deixamos de tocar em lugar nenhum por nada, acaba que a gente fica como referência em algo que é simples: esforço, qualidade e persistência. Tem meu trampo como produtor por trás, correndo sempre, fazendo os melhores contatos , trampo de pedreiro mesmo, de formiguinha, todo santo dia, twitter, orkut tem que correr atrás sempre. É ralação pesada (Risos)
Rádio77 - O que esta edição da Dança das Sombras traz de especial para o publico?
Rafael de Lucena - Bom, essa edição traz nada mais nada menos que o encontro de 3 gerações, o Hansen do HARRY (SP), figura conhecida dos anos 80 pioneiro e desbravador do estilo e afins, rock eletrônico, O Plastique Noir, atualmente a banda mais importante e conhecida desse cenário dark no Brasil e ainda o Aire 'n Terre (RS) que é um projeto dos anos 90 pioneiro no uso da internet como meio de composição de música, pois o cara daqui do Brasil lançou um CD virtual com participações de pessoas da argentina, além dos Djs, e vamos filmar tudo para lançar um DVD em breve.
Serviço:
Dança das Sombras (18ª Edição)
Apresenta:
AIRE ‘N TERRE (RS)
HANSENHARRYEBM (SP)
PLASTIQUE NOIR (CE)
DJS: DE SADE, CYPHERCRY DUO, AIRTON S (PLASTIQUE NOIR)
Dia 03/12 – 22H – Ingressos R$10,00
Local: THE PUB – Rua Dragão do Mar, 198 – Praia de Iracema
Informações: 8823.9194
